“Não contratem aquela gente lá de cima que tem como cultura viver na praia tocando tambor”

Vereador racista mantem mandato na Câmara de Caxias do Sul

A Câmara Municipal de Caxias do Sul (RS) não aprovou o pedido de cassação do vereador bolsonarista Sandro Fantinel (sem partido), após quatro pedidos protocolados na casa motivados pelas falas racistas de Fantinel sobre 207 trabalhadores, a maioria saídos da Bahia, resgatados em situação análoga à escravidão em três vinícolas de municípios da Serra Gaúcha.

Em fevereiro desde ano, Sandro Fantinel subiu ao púlpito da Câmara de Vereadores de Caxias e botou a culpa nos próprios trabalhadores, afirmando que os empresários não deveriam contratar os baianos, pois “aquela gente lá de cima” tinha como “cultura viver na praia, tocando tambor”.

O vereador sugeriu, no lugar, a exploração de trabalhadores argentinos. “Gente, eu vou dar um conselho. Agricultores, produtores, empresas: não contratem mais aquela gente lá de cima. Vamos contratar os argentinos. São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantêm a casa limpa e no dia de ir embora ainda agradecem o patrão”, afirmou Fantinel.

Ainda completou as ofensas aos nordestinos afirmando que o episódio deveria servir como lição aos empregadores, que deveriam deixar “de lado aquele povo que é acostumado com carnaval e festa”.

Para o processo de cassação de Fantinel ser arquivado pela Câmara de Caxias do Sul bastavam oito votos contrários ao parecer final, que recomendava a perda de mandato. Nove vereadores foram contra o parecer e a favor da permanência do colega racista. Com isso, o mandato do vereador segue normalmente até o final de 2024.

Legislativo falha, mas Justiça acompanha caso

Em nota, as Defensorias Públicas do Rio Grande do Sul e da Bahia repudiaram a decisão da Câmara. “Essa votação só deixa claro que ainda há muito o que ser feito para alcançarmos um Brasil de todos, independente de credo, cor, orientação de gênero e origem”.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) informou ter assinado um termo de ajuste de conduta (TAC) com as vinícolas Aurora, Garibaldi e Salton, envolvidas no flagrante de trabalho análogo à escravidão. Pelo acordo, as vinícolas se comprometeram a pagar R$ 7 milhões em indenizações, R$ 5 milhões por danos morais coletivos e R$ 2 milhões por danos individuais, a ser dividido entre os resgatados. “Os valores do dano moral coletivo serão revertidos para entidades, fundos ou projetos visando a recomposição do dano”, disse o MPT.

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