Bayer Camaçari segrega e divide os funcionários
A Bayer tem feito grandes campanhas por igualdade e combate às discriminações. Saudamos essas importantes iniciativas, entretanto tais conceitos deveriam reverberar nas lideranças da empresa e orientar a tomada de decisões em todos os níveis.
Infelizmente não é isso que vemos acontecer na elaboração do Programa de Participação nos Resultados (PPR), da empresa em Camaçari.
Com a aquisição da Monsanto, os trabalhadores de Camaçari entenderam que o ano de 2019 foi um ano de transição entre os modelos e assinaram um acordo com a promessa de que, em 2020, seri feito um debate mais efetivo, com a construção coletiva de um plano de PPR, negociado com antecedência e buscando melhorias para todos os trabalhadores.
Apesar dos compromissos registrados em 2019, a empresa retardou o início das negociações. A primeira rodada somente foi feita depois passados quase 3 quartos do ano. E ainda apareceu com uma proposta pronta praticamente sem margem para negociações e, negando todo debate de equidade, segregando os trabalhadores em 3 grupos diferentes.
Depois de apenas 3 rodadas de negociações, a empresa apresentou uma proposta que chamou de “proposta final” na qual demonstra está disposta a elevar o seu desembolso com o programa de PPR, desde que tal elevação seja direcionada e não igualitária. Com isso a empresa consegue a façanha de aumentar o seu custo com um programa de incentivos e, mesmo assim, gerar descontentamento e insatisfação.
Na autointitulada “proposta final”, a empresa propõe aumentar o potencial de pagamento do PPR, mas ao invés de apresentar um ganho linear, divide os trabalhadores. Quando comparado ao ano de 2019, ela propõe para 2020 um aumento de 3,51% para os líderes de turno, 13,86% para os trabalhadores do turno e 32,07% de aumento para os trabalhadores do administrativo.
Qual o sentido de dividir os trabalhadores em 3 grupos e propor um aumento diferenciado para cada um dos grupos? Seria coincidência a proposta favorecer a chefia e lideranças em detrimento do “chão de fábrica”?
Durante a pandemia os trabalhadores de turno que ficaram impossibilitados de permanecer em casa de quarentena, mantiveram a fábrica operando 24h por dia, 7 dias por semana presencialmente.
Agora, na hora de redistribuir o aumento do bolo destinado ao pagamento da participação nos lucros e resultados, terão um reajuste quase 3 vezes menor que o concedido aos trabalhadores do administrativo?
Foram 5 anos de tensões, acordos de compensação e muitas paralisações até a Monsanto compreender que os adicionais de turno são parte integrante da renda anual dos trabalhadores de Camaçari e acordar uma fórmula de cálculo da renda anual para fins de PPR que se aproxima da renda anual real de cada trabalhador, independente do regime de trabalho.
Desde que essa fórmula foi acordada, experimentamos 15 anos de estabilidade nas relações.
Será que seremos forçados a voltar aos tempos de tensões e paralisações?
O tratamento discriminatório é tão importante para Bayer que compensa o risco de ter operadores de processo desmotivados e descontentes?