
Artigo de Elson Nonato da Silva – ex operador da PRONOR
Texto dedicado aos ex-colegas operadores já ausentes:
Jair Soares (Barata), José Roberto Pereira (Zé Roberto), José Marcos Cavalcante (Zé Ativo), Rozenvaldo (Rozen), Luís Silva (Carcacinha), Edgar Conceição, Eduardo Pinto (Zebrão), Benjamin Carrascoza Von Glehn, Mauro Soares, Nelson Lucas (Marcha Ré), Linivaldo Braga, Amilton Matos (Urco), Adonias Gonçalves (Dong), Jorge Calmon (Rato), Valter Andrade (Nagô), além do TS Darci Miranda (Jarrão) e do eng.° José Bonifácio (Boni).
Há exato meio século, os colegas da primeira turma de operadores de processos da Pronor Produtos Orgânicos S/A chegaram à empresa, cheios de esperança, e acompanharam a montagem da estrutura civil da planta destinada à fabricação do produto denominado DMT.
Nós, da segunda turma, ao chegarmos um ano depois, encontramos as áreas de oxidação, esterificação e destilação do produto, batizada de Área 350, já prontas para receber equipamentos e a infinidade de tubulações.
Dali em diante, bastava estudar o processo e suas nuances para calçar as botas de aço e partir para “correr as linhas” de todas as cores, diâmetros e comprimentos. Era preciso garantir a estanqueidade da planta através da realização dos chamados testes de linha.
SEGURANÇA
Essas e outras tarefas eram realizadas sob os olhares atentos do técnico de segurança Edson Novais, que não dava moleza para condições ou atos inseguros. Muito antenado, Novais chamava atenção até para a posição do vento quando sacudia a biruta.
AMENIDADES
Foi nessa fase preliminar das atividades que o colega muito irrequieto, senão gaiato, apelidado de Roger, espalhou aos quatro cantos que eu estava inspecionando um corrimão amarelinho no lugar da linha de nitrogênio! Mas ele era “o cara” que criava divertidas histórias e tinha convicção de que batia um bolão nos babas da vida.
Ao se juntar com Calmon, a quem apelidou de “Rato” e depois de “Braço de Picape”, os dois formavam uma dupla tipo Tom e Jerry e tornavam as ZH (Zero Hora) muito mais leves. Ambos foram ótimos profissionais.
Valeu, Calmon!
Com o tempo, muitos outros operadores chegaram e também suaram a fardinha cinzenta. Era uma trabalheira sem fim subir e descer as escadarias das unidades, sobretudo nas tentativas de ajustar o sistema a vácuo — que nunca deixou de ser um inferno na vida dos operadores.
Quem de nós não se recorda daquela engenhoca trabalhosa chamada D-305?
Embora a Pronor tenha sido fundada em 1972, foi em 1977 que iniciou a produção com enchimento de sacos e mais sacos de DMT em forma de escamas. Enquanto isso, a atmosfera brilhava com o sublimado incontido que se misturava aos odores vindos de todo o Polo de Camaçari, deixando o ar quase irrespirável.
E depois de três décadas operando a todo vapor (ou quase), ensacando até 280 toneladas do produto por dia, a planta, inicialmente tocada por baianos, santistas e sulistas, teve sua produção encerrada para sempre.
AS INCORPORAÇÕES INÚTEIS
De nada adiantou para a planta do DMT o fato de a Pronor raiz ter adquirido os direitos da DuPont na Isocianatos e depois incorporando-a totalmente em 1983. Nem mesmo a compra da Nitrocarbono, quando a razão social passou a ser Pronor Petroquímica S.A., evitou o declínio e a “morte” do produto.
Portanto, o “Fato Relevante” que trouxe para si as produções de TDI e Caprolactama não fortaleceu o DMT nem preservou o emprego dos novos e antigos colaboradores.
O FIM DEFINITIVO
Com a fusão da Copene, Pronor, OPP, Triken, Propet e Polialden, em 2002, nasceu a Braskem. Porém, apenas cinco anos depois, a gigante comunicou aos empregados e à Bolsa de Valores que a produção do DMT estava encerrada.
Justificativa: tecnologia ultrapassada e incontornável.
O APAGAR DAS LUZES
Do total aproximado de 40 operadores, além de engenheiros e outros técnicos de apoio, coube a uns poucos, como Jairo Machado, a responsabilidade de esvaziar tanques, vasos e tubulações, muitos deles obstruídos, para então desligar as últimas bombas e bloquear as derradeiras válvulas.
Na sequência, era preciso liberar os equipamentos para leilão. Foi nessa fase terminal que o último operador remanescente da 1ª turma, Evandro Macedo, e o eng.° chefe José Raimundo Badaró foram desligados da empresa.
Assim, sobrou para Machado a missão de apagar as luzes e devolver o crachá.
Eu já não estava mais lá havia tempos. Por isso, não vazei lágrimas.
Neste mês de setembro, em que se completam 50 anos da chegada da primeira turma de operadores da Pronor, não há como não olhar para trás e refletir sobre os passos dados e os resultados obtidos. Trata-se de um marco na vida de cada um que também “fabricou” e preservou amigos mais valiosos do que o depreciado dimetil tereftalato, considerado ultrapassado.
OS PIONEIROS I
Para dar partida na jornada das turmas precursoras de operadores, muitas aulas foram ministradas pelos eng.° Daniel Foster, José Bonifácio e Alair Veras. Este último, um gentil paranaense, permaneceu na Pronor de 1975 a 1980. Hoje, já aposentado, fixou-se no Rio de Janeiro.
OS PIONEIROS II
No quesito técnicas de operação petroquímica, lá estavam os experientes sempre dispostos a ensinar: Jair Soares (fervoroso torcedor do Bangu), Diogo, Benjamin Carrascoza, Zé Roberto, Edmundo Cardoso, Celso Soares, Geraldo Maneira, Genildo Gomes, Malhadão e Renato Teles.
Os extensos fluxogramas da planta, desenhados por eles, foram bastante didáticos , especialmente os gerados pela paciência de Maneira e Zé Roberto.
A GREVE
Esse é um recorte da nossa história que mereceria páginas à parte e, mesmo assim, ainda ficaria incompleto.
Ocorre que os nobres colegas Luís Silva, incansável defensor das causas trabalhistas, e Zebrão, compadre do operador Arnóbio, já não estão mais entre nós para contar tudo o que rolou nos bastidores da greve e nos dias sombrios que se seguiram para os demitidos na ocasião.
Por fim, devido a outras tarefas para ajudar a pagar meus boletos, às vezes trafego pela velha Rua Hidrogênio e observo os destroços do nosso “templo”. Prédios e tanques de matérias-primas, hoje cercados por vegetação, tomam conta do lugar e abafam silenciosamente essa história que já remonta 50 anos.
Só para não ficar quieto nem oxidar.